quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Editorial de agosto/setembro


Alterações climáticas e política de segurança

O artigo que publicamos neste número da newsletter, sobre os desafios geopolíticos e geoestratégicos colocados pelo degelo no Oceano Ártico, constitui um excelente exemplo do impacto que as alterações climáticas têm na segurança regional e global.
Mais próximo de nós, e com implicações na segurança europeia, a seca que nos últimos anos (2010-2012) tem atingido o Norte de África é uma das causas avançadas como tendo antecipado a “Primavera Árabe” e tem sido potenciador do conflito no Darfur (Sudão). As consequências ambientais do aquecimento global traduzem-se, nessa região, na desertificação crescente que leva à escassez alimentar. A redução dos recursos hídricos fomenta a escalada dos conflitos étnicos, e intensifica os fluxos migratórios (com a Europa como destino preferencial). 
A desertificação no Sahel é um fator, entre outros, que ajuda a compreender a ascensão dos grupos islâmicos radicais, o incremento da criminalidade organizada transnacional (droga e armas) e a ausência, por incapacidade dos Estados da região, de um efetivo poder estadual (uma espécie de no man’s land onde prosperam as atividades fora-da-lei).

Harald Welzer, num estimulante livro com o título “Klimakriege” (que poderíamos traduzir por “As Guerras do Clima”), alerta para a natureza dos conflitos armados que podem eclodir no Séc. XXI. Os recursos vitais, como os energéticos e a água, estarão no epicentro de guerras civis ou inter-estaduais. A nova “geografia da fome” será, nestes termos, catalisadora de violência.

As alterações climáticas não são, de per si, uma ameaça à segurança dos Estados, mas constituem indiscutivelmente um “multiplicador das ameaças”. Como bem lembrou Obama no discurso da atribuição do Nobel da Paz, em dezembro de 2009, “there is little scientific dispute that if we do nothing, we will face more drought, more famine, more mass displacement –all of which will fuel more conflict for decades”.
Assim, a arquitetura de segurança contemporânea de qualquer Estado não pode deixar de ter em consideração os efeitos induzidos pelas alterações climáticas, e tal deverá ser refletido no novo conceito estratégico de defesa nacional.

 

                                                                                 Boas leituras!
                                                                                  Nuno Pinheiro Torres

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